Dia dos Namorados

tinder

Vi muitos casais no Dia dos Namorados. Muitos casais;  poucos namorados. Muitos sorrisos de fotos antigas, muita alegria fingida em imagens colhidas propositalmente. Vi muitas declarações que não passaram da pieguice do momento. Como eu disse, vi muitos casais; poucos namorados.

Nas timelines das redes sociais, declarações que vertiam ternura – mesmo escritas por dedos que estavam com os olhos secos, sem lágrimas; por corações que estavam com batimentos normais; por almas que estavam cumprindo o protocolo da existência – se multiplicaram. Parece que quem estava solteiro arrumou um cacho; quem estava separado, coletou alguém da lista de contatos; quem já estava casado, procurou um isqueiro para acender o bico do gás que há muito já se tinha apagado. E todos foram buscar um restaurante para jantar.

Li que a origem do chamado Dia dos Namorados remonta ao Império Romano. Vi também que alguns o conhecem como Dia de São Valentim (aí minha memória já salta para os episódios da Turma do Chaves). Tem algo a ver com um esquema da proibição dos casamentos por causa de soldados solteiros serem melhores combatentes. Entendo que os enamorados, de fato, não tivessem cabeça para lutar. É precisamente isso que mudou de lá para cá.

Hoje, passamos na loja de conveniências e já temos os pacotes de surpresas para o dia em questão na fila do caixa. Eu consigo pensar em Dia dos Namorados sem ter que interromper o meu dia; sem ter que interromper o trabalho; sem ter que interromper a vida. Vai tudo de maneira simples, seguido de uns dois posts com o texto que eu copiei de um site qualquer que vi na Internet. A namorada fica feliz, eu cumpro o protocolo. No dia seguinte, posso ignorar suas preocupações normalmente; posso preferir sair com os amigos em vez de ficar em sua companhia; posso até preferir outras mulheres, mas isso nenhuma postagem pode revelar.

Quando foi que a argamassa da indiferença embotou os nossos sentimentos a tal ponto que chegamos a repetir atitudes com data marcada? Os relacionamentos começam com a mesma facilidade com que terminam, em uma sequência de “zeros” e “uns” que nada entende das coisas da alma. Descartamos sentimentos, pessoas, relacionamentos, emoções, vidas e histórias apenas deslizando o dedo na tela do celular. Talvez, você descarte esse post e passe para algum mais atraente.

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