Também é algo muito comum não saber qual é a dificuldade em Língua Portuguesa. Você simplesmente sabe que não sabe nada! Apesar de ser uma conclusão quase filosófica, há algumas explicações para isso.
Provavelmente, você ainda não tem todos os conceitos com que trabalhamos em Língua Portuguesa bem claros em sua mente. Talvez você ainda confunda o que é análise morfológica com o que é análise sintática. Talvez ainda não saiba bem o que é uma classe de palavras ou tenha conceitos muito rasos sobre a matéria.
Em minha opinião, o maior problema de quem está errando questões ou não está entendendo a matéria e não sabe o motivo é o fato de que muitos “professores” de Língua Portuguesa estão preocupados simplesmente com passar dicas e macetes. Isso é terrível. Um macete pode servir para facilitar a resolução de alguns exercícios, mas certamente não o faz compreender como a língua se articula. Existem níveis diferentes de provas e os macetes mais simplistas não darão conta jamais de uma prova de nível intermediário para difícil.
Para você ter uma ideia do que eu estou falando, vou recorrer a um exemplo bem simples. Muitas vezes já me peguei em situações desconfortáveis enquanto lecionava, em razão de os alunos terem uma lacuna conceitual por causa de outro docente que havia passado uma informação superficial.
O caso a que me reporto é o seguinte: falava para uma turma sobre análise sintática, quando solicitei uma investigação a respeito de um verbo que era relacional (verbo de ligação, para os mais íntimos).
No meio da minha elocução, resolvi perguntar:
- Pessoal, como vocês identificam um verbo de ligação?
- Pelo significado – respondeu um aluno.
- Muito bem! E qual o significado de um verbo de ligação?
- O verbo de ligação indica uma qualidade!
Você pode imaginar que, nesse momento, eu quase tive uma parada cardíaca! Mesmo assim, continuei a reflexão. Vale a pena acompanhar:
– Ah, é? Então, vamos analisar uma sentença. Pense na frase “O professor chegou atrasado”. A palavra “atrasado” está indicando uma característica do professor, certo?
– Certo! – a galera veio com força na resposta.
– Então, que tipo de verbo é esse?
Alguém gritou lá do fundo:
– Verbo de ligação!
Como você deve saber, o verbo “chegar” é um verbo intransitivo, tratado por alguns gramáticos como “transitivo relativo” ou “transitivo circunstancial”. O fato é que não se trata de um verbo de ligação. Em uma conversa com a turma, disseram-me que haviam aprendido assim e que, para eles, não havia outro conceito de verbo de ligação.
Esse é o tipo de problema que pode fazer uma pessoa que estuda, há muito tempo, a matéria errar as questões mais elementares. Daí, é bem compreensível que a pessoa ache que não está progredindo, que não sai do lugar.
Pela experiência que adquiri ao longo desses anos lecionando pelo Brasil, pude entender que – se você tem algum problema com Língua Portuguesa – a origem das dificuldades está certamente nos conceitos morfológicos que você adquiriu ao longo de sua jornada.
Antes de encerrar essa passagem, também é importante ressaltar que somos responsáveis pelo que falamos, não pelo que as pessoas entendem. Talvez o cidadão tenha explicado corretamente e de maneira conceitual o tal verbo de ligação, mas o aluno só tenha “ouvido” a parte do macete.
Caso você não saiba qual é sua dificuldade, adote o procedimento de resolução de questões e posterior avaliação relativa o tipo de questão que você errou. Isso quer dizer: se você errou mais questões de interpretação, concentre-se nessa parte (e siga os conselhos já mencionados); se errou mais questões de gramática, vá trabalhar com a estrutura da língua.