Congelamento, limite remuneratório e apocalipse – para onde ir?

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Todos que leem o meu blog sabem que eu trabalho com preparação de candidatos para provas de concursos públicos. Faz bastante tempo que eu faço isso e, digo sem medo de errar, é algo extremamente benéfico para o ego de um professor ensinar quem quer aprender, mesmo que seja apenas para marcar um X na resposta correta.

Nos últimos dias, uma notícia que tomou a comunidade concurseira foi o pacote de medidas que o Governo Federal quer impor ao funcionalismo público. A notícia caiu como um meteoro escatológico sobre todos aqueles que tinham a perspectiva de uma mudança rápida de condição social após serem aprovados em um concurso.

Dentre as mudanças (que você pode conferir no site do planejamento), há o congelamento do reajuste aos servidores, a limitação da remuneração inicial de para os servidores admitidos em novos concursos e a extinção de aproximadamente 60 mil cargos do executivo.

Evidentemente a notícia não é das mais animadoras. Aliás, a situação é tão complexa que você nem está vendo os estandartes dos cursinhos preparatórios profetizando melhoras ou mesmo apregoando que tudo ficará bem, pois nem eles mesmos sabem qualquer coisa a respeito. Tudo, repito, TUDO pode acontecer com a atual gestão que se arvorou no país.

Entendo que há alguns aspectos importantes que devem ser levados em conta com relação a essa proposta:

  • O primeiro é o de que ela ainda não está em vigor, depende de aprovação do Congresso. Isso é uma esperança? Não, pois a atual gestão domina a maior parte dos membros da casa, logo não haverá tanta dificuldade para essa medida ser aprovada. Ponto negativo para nós!
  • O segundo é que essa limitação de gastos está sendo feita sem um estudo muito lógico de suas consequências para o próprio funcionalismo público, para a sociedade em geral e para o próximo gestor que terá de arcar com esse “foda-se” gigantesco que o Temer está tocando.

Eu quero concentrar a minha análise nessa segunda parte: suponha que você esteja estudando para a carreira diplomática, cujos vencimentos iniciais ultrapassavam 13 mil reais. A partir disso, você receberá apenas 5 mil, pois esse seria o patamar inicial para o ingressante no Serviço Público (não será o valor de 5 mil para a vida inteira, mas demorará uns 10 anos para subir a um patamar remuneratório minimamente aceitável). Bem, até aí tudo bem para o séquito temerino (ou seria temerário?). Essa galera só não está contanto com o fato de que o cidadão admitido no concurso do ano de 2017 ou 2016 não sofrerá esse impacto, pois já foi aprovado de acordo com as leis do último edital. Então, você entrará um ano depois e receberá quase um terço daquilo que seu colega de profissão recebe. O mesmo seria para PF, a PRF, a Receita Federal entre outros órgãos do Serviço Público. Pois é, na minha opinião, haverá advogado comprando planeta apenas com os casos de restituição com base na equiparação remuneratória um ou dois anos depois de essa medida entrar em vigor.

Isso vai impedir que os “cavaleiros da têmera quadrada” aprovem esse projeto? É lógico que não. Entenda: isso vai seguir adiante. Então, esse é o apocalipse dos concursos púbicos? Sinceramente, eu acho que não. Mas vou ser bem honesto: aquela ilusão de riqueza, que muita gente (desinformada) tem quando vê post Concurseiro X Concursado no Instagram, vai se desvanecer. Sem falar na tentativa deliberada de sucatear o Serviço Público. Penso que o cidadão que estiver investindo nisso, fará um cálculo bem preciso entre suas aspirações (que podem, de fato, envolver o sonho de ser um auditor, um policial rodoviário, enfim) e o valor que deverá investir para isso. É bem provável que você comece a notar mais promoções tresloucadas de cursos preparatórios pelo Brasil.

Não se engane: a despeito de muitas maldades propostas pelo nosso Michelito, muito do que se alardeia por aí é pós-verdade. Há muitos interesses particulares nos anúncios que pregam o fim dos concursos públicos. O “chefinho” quer ver o funcionário empenhando até a alma para aumentar os lucros e dar fôlego à iniciativa privada. Num contexto em que se multiplicavam os candidatos a cargos públicos, os certames ficavam mais seletivos. Daí, você teve de aprender mais língua portuguesa, raciocínio lógico, ficar de olho nas atualidades, aprender noções de direito constitucional, administrativo e… acabou se transformando em uma pessoa mais crítica, mais ligada no mundo, menos manipulável. Isso não é nada interessante para o dono da mula.

Que resta disso tudo para quem ainda quer prestar os concursos? Olha, o mundo ainda não acabou (apesar de seu novo final estar previsto para o dia 21 de agosto). Há uma série de concursos com edital aberto, principalmente da área dos tribunais. Você pode mudar de área, mudar de foco, pode até parar de estudar, se achar conveniente. Se, numa próxima gestão, tudo isso mudar (o que também pode acontecer) – e você tiver desistido dos estudos (que costuma ser a tendência dos fatalistas) -, será forçado a começar tudo de novo. Talvez do zero!

Também não é possível fechar os olhos para tudo o que está acontecendo. Uma mobilização produziria bons resultados, mas isso é quase impossível no Brasil, pois aqui somos escravos dos representantes que elegemos; isso acontece porque somos escravos da nossa própria ignorância. Momentos desesperados pedem medidas desesperadas, mas o desespero é relativo: há muita gente ganhando com isso. Por favor, não faça aquele tipo de comentário sarcástico, mas que revela uma inocência extrema: “no deles, eles não querem mexer, safados!” Nenhum político lerá esse comentário e, se ler, provavelmente dará uma bela risada enquanto manda mais um gole do seu Blue Label.

Quando pensar em desistir, lembre-se de que o funcionalismo público no Brasil nem sempre foi o paraíso com que muitos sonham. Contextos se alteram, governos vão e vêm: você fica. Leia isso antes de tomar sua decisão.

4 comentários sobre “Congelamento, limite remuneratório e apocalipse – para onde ir?

  1. O Brasil só vai mudar, só vai começar a desenvolver quando a maioria do eleitorado brasileiro der o devido valor naquele gesto que se repete a cada dois anos no país. Enquanto existir eleitores que vendem o voto ou acham bonito e elegante os políticos que abraçam, beijam, pegam crianças no colo, falam alto e com firmeza e outras babaquices o país não muda. Nós não somos reféns dos maus políticos, somos reféns de uma sociedade hipócrita que não se interessa pelo seu presente e muito menos pelo futuro de sua geração. Enquanto a maioria esmagadora da sociedade continuar a eleger fezes (perdão pela palavra, mas alguns políticos são idênticos a isso), o Brasil vai continuar sendo um país conhecido mundialmente pelas suas belezas e maravilhas, mas também vai continuar sendo conhecido como o país da corrupção, da impunidade, da sujeira eleitoral, das injustiças… Transformar esse filme de terror em um bom filme de comédia, em que todos possam rir de alegria e não rir pra não chorar, só depende de nós! Mas esse filme de terror é antigo, o roteiro é velho e enjoativo, mas tem muita gente que ainda acha graça e quer pagar pra ver o mais do mesmo.

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  2. O governo percebeu que pode fazer o que quiser, que a sociedade aceita. As pessoas ficam em casa, confortáveis, fazendo textão, como se isso resolvesse alguma coisa.

    Um dos grandes males é a passividade. O brasileiro aceita reclamando e depois esquece. Afinal, mais tarde tem big brother, brasileirão e novela das 8.

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  3. Isso é ruim? Sim, é péssimo, mas tem um lado bom nisso, aquelas pessoas que sonhavam com o concurso público pensando somente na remuneração, serão as que vão desistir agora, mas quem tomou sua decisão já há um bom tempo e vê no concurso, a “paz” que só o setor público pode dar e também servir a sociedade, sim, tem gente que quer o serviço público para isso, para servir o público, essas pessoas não desistirão. E em 2019 quando o governo mudar e talvez essa lei for revogada, pelo próximo governante, quem desistir agora vai se arrepender. Concluindo, só vai estar preparado de verdade e só vai conseguir a aprovação, quem for fazer um bom trabalho no serviço público, chega de servidores interessados somente na parte financeira, dinheiro é bom, é ótimo, mas não é o único benéficio de ser servidor! Depois dessa, talvez o funcionalismo público até melhore, pessoas que amam o que faz, ao invés de só o próprio bolso!

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