Quando ela chegou

mulher cansada

Um dia, ela chegou do trabalho. Ele estava em casa. Não demorou para entrar, mas havia alguma dificuldade com a porta.

– Meu deus! Essa porta é uma merda, sempre emperra a droga da chave na fechadura!

Estava bem nervosa, talvez tenha sido o dia na firma.

– Eu já falei para você arrumar essa bosta, mas parece que você não ouve! Será que dá para arrumar isso uma vez? Dá para ser útil?

Fechou a porta, tirou os saltos e colocou ao lado do sofá.

– Olha, eu estou cansada! Todos os dias, tenho que chegar às 8:00 horas ao trabalho, tenho que ficar olhando para a cara daquelas retardadas que esperam qualquer coisa para falar mal da gente. Mal tenho tempo para almoçar: tenho que engolir a comida e sair correndo. Queria ter ânimo para ir à academia, mas chego morta aqui! Ai, não era isso que eu queria para a minha vida! Não era.

Ele se levantou. Foi à cozinha.

– Sabe, fiquei tão nervosa hoje na volta aqui para casa. Duas pessoas me fecharam na rua, e e eu quase bati o carro. Nem estava errada. O povo não sabe dirigir, parece um bando de idiota! Ah, que droga! Acabou de terminar o programa a que queria assistir!

Começou a chorar. Na realidade, desatou a chorar.

– As minhas roupas não estão servindo, não tenho mais calças. Esse sapato está velho e feio. A alça da minha bolsa está arrebentando, e não tenho dinheiro para comprar outra. Sério, eu tô muito mal!

Ele voltou da cozinha, sentou-se ao lado dela: havia feito uma xícara de chá. Respirou fundo, entregou a xícara e disse:

– Eu sei, você tem razão. Toma, fiz para você. Quer conversar mais um pouco ou quer que eu comece o jantar?

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3 comentários sobre “Quando ela chegou

  1. Nossa, professor Pablo, que lindo! Às vezes é só disso que precisamos, mas nem sempre é assim, geralmente ouvimos: Nossa, pare de reclamar, tem gente que está numa bem pior -sim, eu sei, mas vivo a minha vida e não a dos outros – não é reclamação, são apenas desabafos. Só precisamos libertá-los de vez em quando, e se houvesse sempre alguém para ouvir e servir um chá sem julgamentos, seria perfeito!
    Grande abraço!!

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