Contra o destino, na verdade, não podemos nada. Simplesmente porque o destino está no terreno do vir-a-ser. Nada se fez, nada está escrito, nada está programado. Não há uma seta que aponte para cima ou para baixo na jornada que estamos empreendendo. À sua frente, há tijolos, cimento, areia e cal. A água para essa mistura é um misto de sangue, suor e lágrimas. Não se constrói um castelo, sem uma fundação sólida. Não se chega ao outro lado do rio sem uma embarcação – a menos que a coragem para o nado seja tão grande quanto a disposição do espírito para buscar a madeira da nau.
Contra o destino, nada posso. Nada posso, porque meu amanhã não é, sequer, uma ilusão. É um resultado dos meus preparativos mundanos conjugados com uma porção de acaso maluco. Não acredito muito em sorte, mas insisto em jogar com algumas pedras do cotidiano. Quem sabe ela venha a existir e me sorria um pouco. Agora, isso são devaneios. Nada melhor do que fugir à imperiosa necessidade de colocar os pés no chão. No entanto, não é possível fazer isso o tempo todo.
Não podemos fugir a vida toda.
Contra o destino, nada posso. Nada posso, porque minhas mãos (calejadas ou por calejar) ditarão o que há de ser de mim; não serei refém de armadilhas ou de palavras vãs. Serei mais o autor do livro da minha vida e menos o comentarista da vida alheia. Desligarei os monitores, voltarei a arrastar os olhos nas páginas que não brilham, senão pela beleza das palavras. Cansei de absorver energia e exalar vazio.