Vejo – não poucas vezes – muitas pessoas falando besteira a respeito de gênero em Língua Portuguesa. Desde o último absurdo (colocar um “x” no lugar de algumas letras para dar cara de “coisa neutra”) até o mais comum (falar que a Língua Portuguesa é machista), há algumas lacunas de formação que geram tamanhas escabrosidades.
Bem, em primeiro lugar, vamos começar com algo simples: a noção de gênero na língua. Usamos signos linguísticos para representarmos as realidades mentais com que convivemos cotidianamente. Não vou me debruçar sobre essa explicação, quem a preferir pode ler o “Curso de Linguística Geral” de Ferdinand Saussure. Digressão encerrada; a noção de gênero na língua está relacionada ao gênero da palavra, ou seja, a palava está no “masculino” ou no “feminino”, não necessariamente a coisa que ela indica.
Um exemplo:
o aluno
x
a aluna
Nesse caso temos duas versões da mesma palavra: “o aluno” designa uma palavra que não recebeu a desinência (modificador associado à raiz da palavra) de feminino – isso faz algumas pessoas dizerem que ela está “no masculino”. Em “a aluna”, a palavra “aluno” recebeu uma desinência de gênero que fez com que o TERMO ficasse no feminino. O que muita gente ignora – por desconhecimento ou por fazer força para ignorar – é que, na língua, podemos usar livremente as palavras apostando em sua forma neutra, ou seja, ausente de desinências. Quando eu coloco o nome “aluno” em uma prova, o que virá depois pode ser Pedro, João, Samanta, Maria, Jucilene ou qualquer outro nome. Afirma-se isso, porque a palavra “aluno” serve para designar o indivíduo (de qualquer gênero) que está matriculado em um determinado programa em que seu papel é o de discente.
O mesmo ocorre quando se está em um grande grupo formado por diferentes indivíduos (de diferentes gêneros). Não é necessário falar “alunos e alunas”, “professores e professoras”, “amigos e amigas”. Essa é uma cortesia desnecessária. Dizer apenas “alunos” já é suficiente. Até aí, quase todos têm conhecimento. O problema, a meu ver, é a pessoa dizer que “isso ocorre, porque a Língua é machista”. Não e machista! Na verdade, quando se quer fazer a flexão para o feminino, usa-se uma desinência, ou seja, só o feminino possui esse privilégio. O masculino é praticamente o representante do neutro na Língua. Talvez, pela dificuldade do pensamento dualista, as pessoas tenham essa tendência a mandar essa besteira.
De uma maneira mais clara: a Língua Portuguesa não privilegia ninguém. Não é preciso inventar algumas modas para fazer parecer que você tem consciência social, basta estudar um pouco mais e buscar compreender o que é um substantivo epiceno, um sobrecomum, um comum-de-dois-gêneros e por aí vai! Antes de pensar em mudar a Língua, o recomendável é tentar aprender o básico a respeito.